sexta-feira, 10 de outubro de 2014


O poço


O poço secou.
Joguei meu balde, até o final
E só encontrei lama.
Todos os sonhos que eu puxava,
Os versos que de lá saíam,
Matavam a minha sede.

'- Mãe, o poço secou!'
Disse o menino
Que vinte anos envelheceu
Quando a frase terminou.

A vida virou esboço.



- Sérgio Schiapim



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Repúdio


Canto, deus.
A canção da minha guerra interna.
Com voz rouca, sofrida...
Em repúdio ao meu declínio.

Canto, céus.
Os versos que escrevi nas nuvens
Quando elas sumiram,
Em repúdio ao tempo claro.

Canto, mar.
O suor que derramei para que enchestes.
A sede que senti ao correr,
Em repúdio as lágrimas que chorei.

Canto, sol.
Pois você insiste em nascer,
Reciclando o andar das horas.
E, em repúdio a mim mesmo
Eu não canto mais.


 - Sérgio Schiapim



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quarta-feira, 9 de abril de 2014


Exânime


Um pobre resultado de um mero acidente
- Um animal pouco evoluído.
O orgulho de ser pó respirante...
Talvez, deste mesmo concebido.

O arqueado posicionamento dos cromossomos,
Com o batimento apótomo do coração,
Que finda, com uma última expiração...
Antes de saber quem realmente somos.

Inúmeras questões, nulos esclarecimentos,
Alguns cálculos, algumas prosas,
Algumas árvores, algumas rosas,
E a pele segue seu lindo esbatimento.

E sua frequência vai embora
De forma resumida...
Vida, breve vida...
Tão breve quanto esse verso.


- Sérgio Schiapim


"Somos frequências..."


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Jardim Suspenso


No meu cemitério particular
Sem meus poemas completar
Na solidão dos meus próprios sonhos
A borracha fez círculos 
Apagando meus vínculos
Infelicidade eu proponho:

Hoje é outono em meu jardim
Deixo correr o marfim
Que o olhar triste observe
A mágoa correr o papel
Ordenar letras ao fel
Gente feliz não escreve!

Sou o que sua imaginação cria
Deixando sua estrela vazia
Formando rostos no escuro
A constante perseguição
A inconstante inspiração
Quero achar, não procuro

Ouvindo o que vozes roucas dizem
Nas frases que se contradizem
Na sua linguagem fria
Adiciono algumas vogais
Interpreto os pontos finais
E transformo em poesia.

Hoje é inverno em meu jardim
Deixo correr o marfim
Que o olhar triste observe
A mágoa correr o papel
Ordenar letras ao fel
Gente feliz não escreve!



- Sérgio Schiapim




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terça-feira, 4 de março de 2014



Tristeza


Soprar de um céu nublado.
O expirar de algum deus
Faz mover os pêlos teus.
Movendo o inanimado.
Sem poesia?
É o vento, e só...

Poeta quente, amarelado...
Iluminando as letras tuas
Com projeção, à sombra, duas
Vezes mais inspirado!
Sem poesia?
É o sol, e só...

Ilumina a escuridão,
Alterna sua predileta fase.
Satélite da noite, base
Dos meus sonhos, inspiração!
Sem poesia?
É a lua, e só...

Inspiração dos escritos.
Letras choram um verso solto,
Pela névoa que estou envolto,
A caneta, o papel e o atrito!
A tristeza é a tristeza,
E só!


- Sérgio Schiapim


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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014


Desperdício


Eclipse rotatório,
O perpétuo girar,
Fazendo viver o ilusório,
Olhar e não acreditar...
- Os segundos são anos.
- Anos são segundos!

Natureza findando
Qualquer ponto final,
Inconstante ou senoidal.
Inspiração inundando...
- Os minutos são dias.
- Dias são minutos!

Mudam-se estações,
Nasce o começo, um novo elo.
O sublime, o Éolo.
Que finda as aglomerações...
- Os meses são semanas,
- Semanas são meses!

Continuo meu trôpego sambar,
Esquivando das alegorias...
Um carnaval de vozes frias.
O desperdício, o continuar:
- Os milésimos de algum segundo,
- Segundos de algum minuto,
- Minutos de alguma hora,
- Horas de algum dia...

O dia de que algo acabe!



- Sérgio Schiapim


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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014


Nova Queda


Preso, em antigas poesias, disperso.
Aprendendo a pesar palavras, pego
Uma dose do meu finado ego
Enterrado por estar em excesso.

Derrubo meus medos, eles caem engraçado.
Conto os anos na minha pele...
Deixo que a consoante me atropele
E atinja meu papel desgastado!

Minhas ideias com febre,
Presas na profundidade.
Sou um corredor sempiterno

Na procura da cura, célebre...
Sabendo de sua ambiguidade.
Na inspiração em mim hiberno.



- Sérgio Schiapim

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